Histórias de pessoas
que me falharam demais
quando não deveriam,
histórias que eu não consigo
contar
sem a forma alusiva
da poesia,
sem a metáfora que preserva
da clareza da prosa
a lógica de ações
que me doem
até a polpa dos ossos.
A poesia me poupa
do julgamento possível,
do julgamento necessário,
até a polpa dos ossos,
as causas e os efeitos,
as perguntas e as respostas,
os diálogos e os dias,
de lumiar claridade.
Eu tenho medo de contar
fora do meu esconderijo,
eu tenho medo de dizer
com a clareza da prosa,
sobre aquilo que me rasga,
até a polpa dos ossos,
sobre aquilo que me dói,
com a clareza de um dia.
Eu tenho medo de
deixar de amar sem
eu tenho medo de
não ser capaz nem
nada ou o meu grito
esvaziado por dentro
com
uma garra que extirpasse
as minhas cordas vocais:
um gesto necessário ou
essa metáfora que
ou
me emudece e
socava
a parte dura do osso,
mas sem deixar de mostrar.
A poesia é necessária para que
o amor
não rua.