José Rodrigo Rodriguez

O reformismo estético de Nirvana, Chico Buarque de Hollanda e The Beatles (fragmento)

In Aforismas e fragmentos on 25/09/2011 at 20:04

A trajetória do Nirvana e o pensamento de seus integrantes, especialmente de Kurt Cobain, é crucial para compreender a indústria cultural de nosso século e a trajetória da música alternativa:

“Nós nunca fomos uma banda alternativa que pretendeu fazer sucesso por razões financeiras. Claro, nós queríamos o respeito das pessoas que admirávamos e elas faziam parte do punk. Mas nunca fomos uma banda assim. Por exemplo, algumas bandas punk assinaram com grandes gravadoras e não agradaram ao público e por isso se tornaram bandas New Wave. Desde o começo nós sabíamos o que estávamos fazendo. Nós somos uma porra de uma banda de New Wave, cara! Claro, eu gostaria que as pessoas que ouviram “Nevermind” porque é fácil de ouvir também se relacionassem com a parte mais pesada de nosso som e fossem atrás de bandas punk como Black Flag e Flipper.”, disse Kurt Cobain a um repórter nos anos 90.

O projeto estético dos Beatles e de Chico Buarque de Hollanda difere muito do projeto do Nirvana? Reformistas moderados do POP, estes artistas incorporaram as experiências mais radicais de sua época de forma diluída para renovar um pouco o gosto das massas. Basta comparar a versão de Chico para “Me deixe mudo” com a versão original de Valter Franco para entender o que estou dizendo.

Em um tempo de grandes gravadoras e conglomerados de mídia, em tempos de ditadura militar e censura, este projeto assumia feições progressistas. Afinal, estávamos diante de artistas dispostos a renovar a experiência estética mais vulgar e falar de temas políticos sensíveis; incorporar novos elementos ao POP e às vezes desafiar o padrão comercial de seu tempo.

Mas com o fim da ditadura militar brasileira e o declínio dos grandes conglomerados de mídia também em razão da internet, parece ser ainda mais progressista apostar na destruição de qualquer grande centro de poder simbólico e fortalecer meios alternativos de produção e distribuição de música e cultura. Pois desta forma, podemos evitar a criação e a manutenção de estruturas capazes de homogeneizar o gosto por meio do abuso do poder econômico.

Este, aliás, é o maior legado político do movimento punk com seus inúmeros fanzines, gravadoras independentes, casas de show fora do circuito comercial e postura anti-star system.

Quem seria hoje autoritário e demagogo o suficiente para pretender ser “a voz de sua geração”?

Seja como for, quem estivesse em busca de artistas realmente radicais naquela época, era melhor procurar em outros lugares, como nos explicou Kurt Cobain, bem longe de Nirvana, Chico Buarque de Hollanda e The Beatles. O projeto estético de cada um deles excluía, logo de saída, a possibilidade de estar muito além do gosto comum. Quem sabe alguns centímetros?

  1. Nossa que coincidência, estava pra te mandar esse link aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Ioy-bYYd34w.

  2. Zé, essa teoria é a aplicação do q aprendemos na comunicação em massa do colegial…
    Agora hoje em dia, ainda existe um consumo em massa em tudo q se “consome”, muito embora realmente seja impossível dizer q há alguém q vá personificar a voz de uma geração pois meno male, o mundo em certos aspectos está mais heterogêneo com a disseminação dos dados e das informações, não é mesmo? Se antes tinha marca X e Y de biscoito no supermercado, agora tem zilhões de marcas q vc pode escolher, ainda q todas atendam dentro de uma margem de desvio a um gosto comum. Se não, torna-se economicamente inviável a comercialização. Será q não é isso? De original mesmo, só o caldo com osso de galinha, frango, carne suína, coentro, alho, sal, mel, etc, etc, q eu cozinhei na semana passada (risos)!

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