Que alguma coisa me comova e passe a
ativar uma certa eletricidade sem metáfora,
faíscas, flash, frio: são aproximações conhe-
cidas mas é que por dentro o fogo, se hou-
ver, vive sem oxigênio: não é bem assim,
não é bem isso, mas como seria? A carne pen-
sando em alguma coisa que eu não sei nem
mesmo o que é enquanto eu como, danço e
ando, por trás das metáforas e por trás do pen-
samento, a carne lembrando vibrando em ele-
tricidade, sem parar, sem cessar, enquanto eu fa-
lo ou mesmo sem nenhum movimento, alguma coi-
as me comove e eu me explico como, assim, sem
discurso.
Está lá, está lá e nunca houve dúvidas e muito menos
reflexão em qualquer nível: está lá, está como uma
bolha de água ou um câncer, a memória das células
degeneradas em fricção que passam a digerir os pró-
prios excrementos, em um tom menor ou um tom
maior, está lá, está lá, pulsando, ardendo, um frio na
barriga, um arrepio: são aproximações, alguma coisa
que me comove e como um câncer entra em mim em
comunhão, mas Deus! Eu sempre me lembro ou é a car-
ne que se lembra e eu, eu apenas encarno, como se vi-
ver fossem assim, em algum lugar, tão fora de mim.